sábado, 31 de janeiro de 2015

Bate papo com o ex-pastor e hoje ateu, Sergio Viula.

Bate papo com Sergio Viula

Ele já deu entrevistas para revista Época, revista Trip, portal UOL, varias rádios, site Eleições hoje, que rendeu repercussão internacional, responsável pela retirada da venda dos livros da editora de Silas Malafaia no catalogo Avon, pelo seu conteúdo homofobico (nem precisava comentar isso, homofobia praticamente é sinônimo do enrustido Silas), também  responsável pelo blog Fora do Armário, entre outras... a lista é grande.

Além de ser muito simpático e solícito, Sergio Viula não foi um mero teísta, ele ocupou um posto que não tem uma fama muito boa, principalmente aqui, no meio ateísta. Formado em teologia, ex-pastor evangélico e defensor da ¨cura gay¨. Sergio Viula hoje é ateu, autor do livro Em busca de mim mesmo, professor de inglês e estudante de filosofia na UERJ. Uma informação extra que só tem relevância aqui pelo seu histórico, Sergio hoje é homossexual assumido e me deu a honra desse rápido bate papo.


Bruna - Sergio, de onde veio toda essa religiosidade que culminou ao extremismo de ser um líder religioso ? Veio de sua família, foi algo que você procurou sozinho?


Sergio -  Na realidade, minha família
sempre foi muito religiosa. Meus pais, avós e demais parentes eram todos católicos. Nasci numa família de imigrantes portugueses. Então, o catolicismo estava presente em tudo o que fazíamos. Aos 16 anos, passei pelo que chamam de conversão numa igreja evangélica e isso foi um escândalo para todos, porque nunca na história da minha família houve um protestante sequer. Eu era o primeiro, mas devido ao fervor com que me dediquei à "nova" fé, meus pais e irmãs acabaram se convertendo também. O restante da família permaneceu católico.


Bruna - Quando e como foi o processo para se tornar um pastor? Por que você achou que deveria seguir esse caminho?


Sergio -  Sempre estudei a Bíblia com afinco. Na verdade, antes mesmo de me converter, eu já havia lido a Bíblia toda. Essa primeira leitura foi feita em apenas três meses. Como eu era muito estudioso e articulado, logo me vi pregando em cultos familiares, mais tarde nos cultos de mocidade, depois em alguns cultos dominicais. Fui professor de escola bíblica dominical – a famosa EBD. Antes de completar 22 anos, envolvi-me num treinamento missionário através da Operação Mobilização (OM), uma organização missionária interdenominacional e internacional. Quando voltei, fui para o seminário e comecei meus estudos teológicos propriamente ditos. Trabalhei como pastor numa igreja pentecostal. Depois, migrei para a igreja batista onde já vinha pregando fazia algum tempo. Na realidade, eu transitava bem por todas essas igrejas, porque geralmente fazia exposições bíblicas com certa profundidade e com grande apelo missionário.


Bruna - Para nós maioria leigos, explique como é esse processo de virar um pastor, quais são os requisitos ? Porque sabemos que pastores no Brasil tem privilégios, como por exemplo, tratamento diferenciado no código penal, logo pensamos que deve  haver exigências para virar um pastor. 

Sergio - Existem algumas fantasias a esse respeito, e isso é natural. A gente tende a ver apenas aquilo que dá mídia. Na realidade, muitos pastores são pessoas que vivem com poucos recursos. Alguns moram em favelas pela vida inteira. No meu caso, nunca tive privilégios. Primeiro, porque eu nunca gostei da ideia de receber salário da igreja para dedicação exclusiva. Isso geralmente torna o pastor refém. Preciso ressaltar que há muitas maneiras de se administrarem igrejas. No caso das igrejas batistas da Convenção Batista Brasileira, o pastor não é dono de igreja. A igreja pode admiti-lo e demiti-lo quando bem entender. Ele também pode pedir desligamento quando achar conveniente e ir trabalhar com outra igreja que tenha lhe proposto ministério. Por isso, eu sempre preferi trabalhar como pastor "autóctone", ou seja, aquele que vive de algum trabalho paralelo. No meu caso, dava aulas, traduzia material para editoras e vendia livros. Houve um período em que eu trabalhei com uma ONG ligada ao Pr. Caio Fábio, mas que não pertencia à igreja. Lá trabalhavam pessoas crentes e pessoas não crentes. Meu último emprego antes de deixar o ministério foi numa escola.

Além disso, nas igrejas que eu pastoreei, eu nunca mexia com dinheiro. Os tesoureiros eram eleitos pela igreja e a contagem de dinheiro de ofertas, bem como o registro em livro caixa, era feita pelos tesoureiros e mais duas testemunhas escolhidas aleatoriamente dentre a congregação durante os cultos. Isso garantia lisura e transparência.

Por isso, quando decidi deixar o ministério, eu não devia nada a ninguém. E também não levei nem mesmo uma folha velha de hinário comigo.

Sobre a formação de pastores, isso varia de igreja para igreja. No caso das igrejas batistas, o candidato ao pastorado precisa fazer seminário teológico. No Rio de Janeiro, os dois seminários que os batistas geralmente prezam muito são: o Seminário Batista do Sul (bairro da Tijuca) e o Seminário Teológico Betel (bairro do Rocha). Mas nem todo mundo que faz seminário vem a ser pastor. Ele precisa ter o que eles chamam de vocação. E esta geralmente se confunde com fé apaixonada e contagiante, conhecimento bíblico-teológico, habilidade para pregar e ensinar, capacidade administrativa, disposição para aconselhamento e para se entregar ao trabalho em qualquer dia e a qualquer hora. Ser casado é uma coisa que os batistas geralmente prezam muito, e por aí vai. Durante todo o tempo no seminário teológico, o seminarista é observado, seu trabalho é avaliado, etc. Se ele for um bom candidato ao ministério, o pastor de sua igreja o indicará para o concílio ordenatório. Tendo sido aprovado nesse processo, ele será ordenado por uma junta de pastores depois do concílio e poderá ser chamado por alguma igreja que esteja sem pastor ou até mesmo continuar na sua igreja de origem como pastor auxiliar do pastor presidente daquela congregação.

Vale lembrar que há igrejas que ordenam qualquer um que tenha boa comunicação, disposição para ser escravo e capacidade de fazer dinheiro saltar dos bolsos dos fieis, como parece ser o caso da Universal e outras do mesmo gênero.

Por isso, não se pode ensacar todos os pastores e coloca-los sob a mesma etiqueta.




Bruna - Como funciona os bastidores de uma igreja, a administração, você  chegou a ver alguma falcatrua ou má fé? Como já vimos em vários vídeos.
 

Sergio - Eu acabei falando sobre isso na pergunta 3, então vou falar das falcatruas agora. Golpes podem acontecer principalmente em organizações para-eclesiásticas quando se trata de igrejas que não têm no pastor uma espécie de dono do negócio. Mas o que são organizações para-eclesiásticas? São aquelas que trabalham em função da igreja ou que extraem dela recursos para projetos humanitários, missionários, etc. Já ouvi muita coisa sobre organizações assim, mas nada que eu tenha testemunhado ou que possa provar.

Como as igrejas batistas (falo da minha experiência) aprovam seus orçamentos via assembleias regulares e depois aprovam a contabilidade sempre referente ao último mês também nessas assembleias, fica mais difícil dar golpe nessas igrejas.


Bruna - Você chegou a obter algum tipo de lucro sendo pastor ?

Sergio - Também na pergunta 3, eu respondi a isso. Mas vou acrescentar algo aqui. Quando um pastor mau caráter consegue criar um esquema de auto-beneficiamento, ele nunca larga o osso. Se ele é mau caráter e está se "dando bem" (expressão do senso comum que diz muito sobre a maioria das pessoas, infelizmente), por que esse mau caráter largaria a "teta" que o alimenta tão abundantemente? Esse é o caso de muitos desses pastores televisivos que têm organizações que geram lucros milionários ou que comandam suas igrejas como genuínos homens de negócio. Eles vão deixar de andar de jatinho, comer em restaurantes caríssimos em viagens pelo Brasil e mundo afora? Para começar, se eles fossem de bom caráter, não fariam isso. Não explorariam a credulidade alheia. Eles fazem isso, porque eles mesmos não acreditam naquela baboseira que pregam toda vez que se colocam diante das câmeras ou das congregações. Bem, eu não fui um desses. Por que deixaria o ministério se fosse, para início de conversa, um aproveitador? Fato é que eu realmente acreditava no que fazia e colocava parte do meu próprio dinheiro, ganho através do meu trabalho fora do ministério, nos projetos missionários que eram a minha maior paixão e em outra obras da igreja.

Só para dar um exemplo de como eu era apaixonado pelo ministério missionário, eu deixei um emprego que me dava conforto e garantia de futuro numa empresa de petróleo para trabalhar como missionário (sem salário) no interior do nordeste. A ajuda financeira que minha irmã conseguia levantar através de pessoas que acreditavam naquele trabalho eram enviadas para a organização missionária que nos "administrava"- a Operação Mobilização. O que chegava às nossas mãos só dava para a manutenção básica da equipe - eu, minha então esposa, três jovens e um rapaz. Ao todo, cinco pessoas abnegadas e acreditando que estavam fazendo algo de tremenda importância para o reino de deus, quando na verdade, estávamos só perdendo o nosso tempo e enterrando nossas carreiras.
Uma dessas jovens teve câncer. Fizemos um esforço enorme para convencer a organização missionária de que ela precisava retornar. Eles fizeram tudo para impedir. Cansados de ver a moça definhando diante dos nossos olhos e sofrendo com o sofrimento dela, decidimos comprar a passagem de volta dela com dinheiro que devia ser usado para nossas despesas e envia-la de volta, apesar da recusa da organização. Quando ela chegou a Petrópolis, munícipio do Rio de Janeiro, onde ficava a sede da organização, foi levada ao hospital e constataram que era câncer. A jovem missionária morreu longe de seu pai e de seu país. Ela era peruana. Saiu para ser missionária e voltou como cadáver. O principal responsável pela recusa em embarca-la de volta nunca se desculpou. Quem o fez foi um líder que trabalhava com ele e que tinha muita autoridade na organização, mas tinha viajado para fora do Brasil no período em que isso aconteceu.  
Nunca comprei um bem sequer com ajuda da igreja. E isso porque eu nunca quis depender dela. Eu tinha uma noção de ministério que passava pela minha liberdade de dizer o que a congregação precisava ouvir, gostando ou não. E se eu dependesse financeiramente, eu ficaria refém dos "donos do dinheiro".

Se eu fosse um pastor mau-caráter, teria aberto minha própria denominação como se fosse uma empresa e enganado muita gente. Felizmente, para mim primeiro, e depois para quem me ouvia, eu nunca sequer sonhei isso nem nos meus piores pesadelos.


Bruna - Em que momento você começou a duvidar de sua fé? O que causou a ignição do processo ? 

Sergio - A dúvida não veio toda de uma vez. Foram pequenos furos naquilo que chamamos de crença que acabaram se unindo e virando um grande rombo.

Primeiro, as contradições no próprio texto bíblico. Depois, o estudo cuidadoso da história da formação do próprio cânon bíblico (os livros considerados inspirados por deus que vieram a fazer parte da Bíblia - 66 para os protestantes e 73 para os católicos). Além disso, a falsidade do que se consideram milagres e sinais de deus ocorridos nas igrejas.
Uma das razões porque deixei de ser pentecostal foi principalmente por perceber que aquelas línguas estranhas, profecias, visões eram produto de mentes carregadas de neuroses e vaidades. Nada tinham de miraculoso. Além disso, tais coisas não têm o menor respaldo na Bíblia, apesar da maioria dos crentes achar que sim. O pentecostes de onde vem a palavra pentecostal não tem nada a ver com supostas "línguas de anjos". As línguas que eles falaram eram línguas de povos diferentes. Isso se o fizeram por um milagre mesmo. O que se diz que eram “línguas de fogo” sobre a cabeça de cada um deles é o mesmo que “chamas de fogo” – daí o logotipo de muitas igrejas ter uma chama (língua) de fogo.
E a pergunta que eles nunca se fazem: que utilidade tem falar numa língua que ninguém entende? Nem para a oração presta. O livro de Salmos diz: "Não havendo ainda palavra alguma na minha língua, eis que logo, ó Senhor, tudo conheces." (Salmos 139:4)
Além disso, Jesus (se ele disse mesmo o que está escrito) era contra orações exibicionistas feitas em público: "Mas tu, quando orares, entra no teu aposento e, fechando a tua porta, ora a teu Pai que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará publicamente." (Mateus 6:6).
Depois disso tudo, ainda tinha os absurdos do Gênesis sobre a criação do mundo e origem dos seres humanos que não se sustentavam diante das descobertas científicas.
E para completar, eu sempre ouvi os crentes dizerem que deus transformaria pessoas homossexuais que se convertessem a Cristo de coração, mas nunca vi um só gay, lésbica ou travestis converter-se em heterossexual de fato. E por que deveriam? O que vi foi muita gente deprimida e se auto-odiando por causa dessa mentira. Vi pais rejeitarem filhos e os maltratarem por causa disso. E olha que eu atuei num ministério desses que dizem "curar", "libertar", "transformar" homossexuais, mas garanto: nunca vi um só caso de transformação. A coisa vai muito além disso.

Bruna -  Você hoje é um homossexual assumido, você sempre soube que era ou essa descoberta foi parte do processo de sair da religião, deixar dogmas etc ? 
Sergio - Desde o jardim de infância, eu já sabia que era diferente de alguma maneira. Quando entrei na puberdade, assim como qualquer outra pessoa, descobri o que era desejo sexual. Antes disso, tudo era amor platônico. Com oito anos, achava o Lauro Corona um gato, mas não tinha a menor ideia do que faria se ficasse um dia sozinho com ele. (risos) Aos 12 anos, tive minha primeira relação com um colega pouca coisa mais velho que eu. Ficamos juntos por dois anos. Só acabei com tudo quando ele comentou com um amigo. Eu tinha medo que esse meu amigo contasse para a mãe dele e isso chegasse aos meus pais, que eram muito preconceituosos. Eu ainda era católico. Foi aos 16 que me converti dentro de uma igreja evangélica. Achei que estava tudo resolvido. Cheguei a me casar e viver 14 anos com minha ex-mulher. Tive dois filhos. Fundei com mais duas outras pessoas um grupo de "cura gay" chamado MOSES (Movimento pela Sexualidade Sadia). Outra coisa que só me deu trabalho, nunca dinheiro. Meus atendimentos a quem procurava o grupo eram gratuitos. Sentia compaixão das pessoas em seus sofrimentos, mas comecei a perceber que nada mudara de fato em mim e também não mudava nelas. A gota d'água foi ter mantido um relacionamento com um filipino que só vi uma vez na minha vida. Foi numa viagem. Ali, eu tive mais do que certeza que toda aquela promessa de mudança que a gente ouve na igreja e repete como verdade não passava de uma farsa. Depois disso, voltei para casa decidido a por fim nessa história.


Bruna - Você defendia a ¨cura gay¨ na sua igreja, chegou a acontecer algum caso ? Como era feito o processo de "cura" ? 

Sergio - Como eu disse acima, nunca houve mudança alguma na vida de qualquer pessoa que eu tenha conhecido no período em que estive na igreja e no MOSES. Foram 18 anos de evangelicalismo. O processo que tanto propagandeiam como algo extraordinário não passa de "discipulado", ou seja, tentar transformar a pessoa num discípulo de Cristo. O problema é que os gays podem ser discípulos se quiserem. Não que devam, mas podem. Acho que viverão melhor quando perceberem que a religião está para o ser humano como os tanques de oxigênio para os tubarões. Isso, porém, era inconcebível na cabeça daquelas pessoas e na minha naquela época.
O processos era geralmente o seguinte: as pessoas passavam por sessões de aconselhamento, tinham que ler material voltado para essa questão, tinham que romper amizade com todo o seu círculo de amigos gays, tinham que frequentar os cultos de alguma igreja evangélica, tinham que se manter celibatárias até o casamento (heterossexual), deviam participar de retiros produzidos por essas organização de "ex-gays", nos quais muitas vezes eram aplicados psicodramas, etc. Tudo isso pode se prestar ao trabalho de lavagem cerebral, mas não transforma ninguém em heterossexual. Em neuróticos, certamente.

Bruna - Você hoje, assim como eu, também pensa que esse fanatismo por cuidar da sexualidade alheia é feito por prováveis homossexuais ? 

Sergio - Sim, na maioria das vezes quem se preocupa muito com a homossexualidade tem algum nível de enrustimento gay ou lésbico. Mas também existem pessoas que pelo hábito de pensar em categorias homofóbicas e dizer coisas dessa natureza acabam se juntando ao coro dos descontentes, apesar de não serem enrustidas ou mal-resolvidas consigo mesmas. Tem gente que se ressente da tranquilidade com que muita gente LGBT (lésbica, gay, bissexuais e transgênero) vivencia sua própria orientação sexual e identidade de gênero. Para os infelizes, o simples fato de que alguém está gozando feliz e tranquilamente em alguma parte do mundo incomoda, especialmente se for aquele vizinho gay ou aquela vizinha lésbica. O preconceito aumenta quando se trata de alguém transexual ou travesti. Quem está de bem com a vida, geralmente se pergunta como pode haver tanta gente recalcada e encrenqueira por aí, não como pode haver tanta gente gay e feliz.




Bruna - Hoje você se considera ateu ou agnóstico ? 

Sergio - Considero-me ateu.




Bruna - O que você acha do atual ativismo anti religião? O ativismo online, como das páginas ateístas, o ativismo prático como da Atea. Você acha que está faltando algo ? O que poderia ser melhorado ? 

Sergio - Eu penso que a divulgação do ateísmo de maneira articulada, inteligente, objetiva, pedagogicamente elaborada (não necessariamente para uso escolar) é necessária e bem-vinda. Penso que algum grau de humor de vez em quando não faz mal a ninguém. Porém, vejo muito ateu fazendo colocações que beiram a ignorância (falta de conhecimento) e a mais completa falta de educação. Se eu que sou ateu, deixo de prestar atenção em certas postagens e até bloquear certas pessoas assim que identifico essas péssimas "qualidades" na atitude ou discurso de alguns, imagine os religiosos. Agora, se fosse bem feita a abordagem, ela poderia ajudar muita gente religiosa a repensar algumas coisas ou aprender o que seja relevante para o questionamento. Mas o que acontece quando a postagem é de baixo nível? As pessoas só ficam com raiva e nada mais. A questão é: o que me move – um desejo sádico de fazer sofrer ou um desejo genuinamente humanista de quer ver o outro crescer na consciência de que é melhor viver livre de dogmas castradores e fantasias supramundanas?

Acho que faltam a muitos ativistas ateus de última hora algumas noções mais apuradas do que é ativismo ateísta e do que se objetiva com ele. Mas dizer o quê e para quê não basta. É preciso pensar no como: como pretendemos fazer isso.

Já vi gente reagir com desdém ao fato de eu ter sido pastor e agora ser ateu. Não que isso mereça uma vaga no tapete vermelho na festa do Oscar. Mas, cada vez que eu vejo um religioso, especialmente líder, me dizer que questionou a fé ou está questionando, eu dou pulos de alegria. Imagina se ele me diz que agora é ateu e está feliz de ter se libertado da escravidão dogmática. Por que não celebrar cada um que se desliga da Matrix? Afinal, é mais um que, tendo se desligado momentaneamente do dogma pela via do questionamento, decidiu tomar a pílula vermelha do ateísmo (alusão a Neo em Matrix) para nunca mais voltar àquela ilusão.

Mas me parece que ser ateu não é o ponto de chegada. Tem que ser o ponto de partida. Eu preciso fazer algo de mim e do que está à minha volta daqui para frente que corresponda ao meu despertar do sono dogmático. Tem gente que acorda, mas quer continuar “confortavelmente” deitado em esquemas que foram construídos a partir daquela fé. Muitas pessoas que se dizem ateias hoje em dia são tão conservadoras quanto os reverendos reformados mais antigos ou os padres mais fanáticos da Idade Média – com um diferencial apenas: não acreditam mais em deus. No entanto, não conseguem deixar de viver à sombra de seus ditames, mesmo que tentem encontrar outras razões para justifica-los que não seja a fé. Só que a fé os pariu e eles são a cara da mãe, não importa quantas vezes seus nomes sejam trocados.

Considero importante destacar que ter uma religião e se reunir com propósitos religiosos é um direito humano e deve continuar sendo. As pessoas devem ser livres para crer ou não crer – daí, a laicidade do Estado que eu defendo. O que não se pode é achar que vale tudo em nome da religião.
Tudo o que viole direitos básicos de outros seres humanos ou venha a causar-lhes danos físicos, mentais, financeiros, etc. pode ser assunto para a Justiça. Por exemplo, o direito de pensar que o espírito de um médico fala com você deve ser mantido. Agora, receitar remédios sob o suposto comando desse espírito é caso de polícia e tribunal. Assim sendo, o direito ao culto e à reunião devem ser preservados, mas ninguém pode usar isso para promover fraudes, violência, etc.

Falando em organizações ateístas, eu diria que gosto muito do modo como duas delas se colocam nas redes sociais e diante da sociedade um modo geral: a ARCA (Associação de Racionalistas, Céticos e Ateus) e a LiHS (Liga Humanista Secular do Brasil). Isso não quer dizer que eu reprove as outras, mas até o momento dessa entrevista (31/01/2015), eu subscrevo os princípios e condutas que me ambas têm adotado. Se algum dia, elas me derem razões para pensar diferente sobre isso, não terei nenhum problema em mudar de opinião, mas até hoje vejo ambas como extremamente benéficas para o movimento e para a comunidade ateísta.


Bruna - Você que esteve bem próximo desse mundo religioso, o que você acha desse aumento do cristianismo fundamentalista no Brasil ? Quais as consequências que você vê a médio e longo prazo para o pais ? 

Sergio - O crescimento do fundamentalismo religioso não é o único problema do Brasil, mas certamente é um dos mais graves. Se o crescimento dessas igrejas que são currais eleitorais com pastores e que conseguem votos de cabresto para seus colegas de ministério continuar, a tendência será que eles consigam eleger cada vez mais vereadores, deputados, senadores, etc. Isso é grave, porque é o legislativo que dá a base para tudo – desde a legitimação de direitos básicos até a aprovação para investimentos bilionários da parte do Executivo. Um país dominado por fundamentalistas não será um bom lugar para se viver, seja você ateu, agnóstico ou religioso de qualquer espécie.

Imaginemos que um fundamentalista viesse a ser presidente do Brasil e contasse com apoio de uma grande bancada vinculada a seu segmento religioso. Bem, ele poderia impedir avanços no campo dos direitos civis, nas liberdades de culto para outras religiões que não a dele, inclusive criar problemas para ateus e agnósticos em várias esferas da vida pública, transferir verbas para organizações de sua religião que fossem apenas empresas de fachada ou "laranjas" para desvio de verbas dos cofres públicos, sem falar na lavagem de dinheiro de origem espúria e até criminosa que essas organizações podem fazer , impor com ainda mais veemência o ensino religioso de seu ponto de vista nas escolas, deixar de investir em pesquisas científicas que muitas vezes contrariam os mitos religiosos que eles consideram como verdades absolutas, deixar de financiar manifestações culturais populares e até impedi-las, e por aí vai.

Não se precisa ir muito longe: basta ver o que fazem os fundamentalistas para evitar a educação sexual de crianças e adolescentes, inclusive para a prevenção de DST e Aids. Basta lembrar-se do fuzuê que fizeram certos setores evangélicos quando o governo decidiu vacinar meninas com até treze anos contra o vírus HPV e por aí vai.




Bruna - O que você pensa do movimento LGBT brasileiro? O que está faltando ? 


Sergio - Penso que o movimento LGBT brasileiro é um exemplo de quanto se pode mudar um cenário hostil ou indiferente em pouco tempo, através de mobilização pacífica, inteligente e articulada. Acho mesmo que os ateus podem aprender muito com os movimentos LGBT (não se trata de um bloco monolítico), muito além do mero uso da expressão "sair do armário" que os ateus atualmente aplicam ao ato de se assumir ateu. Acho ótimo que utilizem a expressão para isso, mas poderiam aprender algumas "cositas más".
Sem disparar um só tiro, sem fazer quebra-quebra, sem explodir os escritórios dos fundamentalistas que tanto perseguem a comunidade LGBT, os movimentos LGBT conseguiram sair da marginalidade para ocupar espaços em todos os setores da sociedade. Quem ontem era preso simplesmente por ser “desviante” hoje ocupa faz de tudo na sociedade: de camelô a legislador.

O que falta? Bem, falta a criminalização da homofobia e da transfobia. Falta também o Congresso estabelecer de uma vez por todas a isonomia do casamento civil entre pessoas do mesmo sexo e pessoas de sexos diferentes. Faltam políticas afirmativas para que pessoas transexuais e travestis consigam se manter nas escolas e ingressar nas universidades. Dois bons exemplos do que se pode fazer quando sociedade civil e os governos trabalham juntos é o que tem feito pela Coordenadoria Especial da Diversidade Sexual do Rio de Janeiro, a CEDS-Rio, e a Superintendência Estadual de Direitos Humanos e Difusos, através do Programa Estadual Rio sem Homofobia. Quem desejar mais informações sobre esses órgãos municipal e estadual, pode acessar: https://www.facebook.com/CEDSRIO  e  https://www.facebook.com/RSHSuperDir.
Mas isso é pouco. Eles atuam no Executivo municipal e estadual. É preciso muito mais do que isso para se efetivarem as mudanças necessárias para acabar com a desigualdade em matéria de orientação sexual e identidade de gênero.

Mas os movimentos LGBT, conquanto dialoguem com o governo e com as instituições, devem continuar livres para se manifestarem como acharem mais conveniente, levando em consideração seus objetivos e demandas. Fico feliz que o Brasil, apesar de ser o país onde mais pessoas LGBT são assassinadas no mundo, seja também o país onde elas mais se manifestam. Isso provavelmente incomodará muitos fundamentalistas, mas não devia incomodar ateus e agnósticos. Estes deviam ver os movimentos LGBT como libertários e úteis à construção de uma sociedade plural, onde as diferenças são bem integradas e resultam na produção de bem estar social e desenvolvimento. E tudo isso passando pela libertadora ideia de que "faço do meu corpo o que bem entender, e nem o Estado, nem as religiões, nem quaisquer outros segmentos têm o direito de me dizer o que fazer de mim mesmo."


Bruna -  Deixe uma mensagem para os leitores.

Sergio - Deixo um pensamento do professor de história, jornalista e escritor polonês Ryszard Kapuściński, falecido ao 74 anos, e que tem tudo a ver com o que conversamos até agora:

 "A ideologia do século 21 deve ser o humanismo global, mas tem dois inimigos perigosos: o nacionalismo e o fundamentalismo religioso."


Como um ¨bonus¨ para nós, aproveitando sua experiência e seu conhecimento teológico, Sergio responde algumas perguntas enviadas por Mayumi, administradora do grupo de debates Ateísmo X Religião e Tatiana, administradora do grupo Papo Ateu.

Mayumi -  Eclesiastes afirma que na morte não existe pensamentos, mas Jesus afirmou que teve consciência na sua morte, Jesus teve uma EQM (experiência de quase morte)?

Sergio - Na concepção cristã, a morte de Jesus não foi o fim de sua existência nem mesmo uma pausa antes de sua suposta ressurreição. Ele teria descido ao inferno a fim de pregar aos que já haviam morrido. Pedro diz em sua primeira epístola, capítulo 3, verso 18 e 19, o seguinte:  "Porque também Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus; mortificado, na verdade, na carne, mas vivificado pelo Espírito; no qual também foi, e pregou aos espíritos em prisão" (1 Pedro  3:18-19). Levando essa passagem e algumas outras em consideração, Jesus manteve sua consciência entre a morte e a ressurreição. Na parábola do rico e do Lázaro também se pode ver a mesma coisa. O que acontece é a Bíblia não é unânime sobre isso (contradição de novo). Explico por quê:

O Antigo Testamento não falava de vida depois da morte como o Novo Testamento o faz. O Antigo Testamento ensina que haverá ressurreição, mas não fala de vida consciente em outro mundo entre a morte e a ressurreição. E mesmo o conceito de ressurreição é muito primitivo no Antigo Testamento, sendo apenas vislumbrado em passagens como: “Pois não deixarás a minha alma no inferno, nem permitirás que o teu Santo veja corrupção.”  (Salmos 16:10)
Alguém pode pensar que a palavra inferno diga respeito a isso, mas ela é uma tradução mal intencionada das versões mais recentes da Bíblia. O correto é Seol (ou Sheol), que os judeus entendiam por sepultura ou túmulo. Então o correto seria "pois não deixarás a minha alma na sepultura..." fazendo uma referência muito obscura à ressurreição. Tanto que havia uma seita judaica nos tempos de Jesus que nem acreditava em ressurreição: a dos saduceus.

Como explicar isso, então? Sincretismo religioso. O judaísmo não escapou de sua parcela de sincretismo com as religiões babilônica, persa, grega e romana. O Novo Testamento importou dos mitos gregos muito de sua crença no pós-morte, com diversas adaptações, é óbvio. Daí, a contradição.
E até hoje isso perdura, pois as Testemunhas de Jeová (TJ), por exemplo, não acreditam em alma imortal consciente depois da morte. Só em ressurreição no final dos tempos. E esta só será eterna para os 'justos'. Os injustos ressuscitarão para o juízo final, mas depois serão aniquilados. Não haverá inferno eterno para ninguém e nem céu para todos os salvos. Só 144 mil viverão no céu. O restante na terra transformada em paraíso. Tudo isso de acordo com a crença das TJ.

Mayumi -  livro de Isaías foi escrito por três autores, o verdadeiro profeta que escreveu até perto do capitulo 40, e um anônimo que usou falsidade ideológica se fazendo de Isaías profeta para escrever o trecho que os cristãos dizem falar de Jesus. O primeiro Isaías viveu na época de Acaz, e o falso profeta na época de Ciro, cerca de 150 anos depois; um falso profeta. Como cristãos encaram a profecia que afirma  ser sobre Jesus ter sido feita por um falso profeta?

Sergio - A maioria dos livros bíblicos não foi escrita por aqueles a quem esses livros são atribuídos. Moisés morreu bem antes do final de Deuteronômio. Samuel não viveu para terminar o segundo livro que leva seu nome. Daniel não viveu para terminar o livro de Daniel. E por aí vai. Os cristãos medianos nem se questionam sobre isso. Quanto à profecia atribuída a Isaías, os judeus a tem como canônica, mas não a atribuem ao Jesus dos cristãos. Os judeus costumam vê-la como uma profecia sobre o próprio povo de Israel. Para não prolongar a resposta, sugiro um post interessante escrito por judeus sobre isso aqui: http://judeusparaojudaismo.blogspot.com.br/2014/05/isaias-53-israel-ou-o-messias.html 

Mas essa passagem não é a única. Os cristãos fizeram isso com muitos trechos do Antigo Testamento. Talvez algumas supostas profecias cumpridas em Jesus tenham sido fabricação de escribas cristãos posteriores.


Mayumi - Jesus se sacrificou, segundo dizem para  salvar o ser humano do pecado original, contudo uma lei judaica determina que os filhos não podem herdar os pecados dos pais; esta aqui: "Os pais não morrerão pelos filhos, nem os filhos pelos pais; cada um morrerá pelo seu pecado."  (Deuteronômio 24 : 16) - Este pecado original não existia até Santo Irineu e Santo Agostinho institucionalizarem como dogma católico por volta de 300 depois de Herodes, ou como preferem os ocidentais, DC. Ou seja, que por quase 2 mil anos ninguém sequer falou sobre pecados originais;  Contudo parece que este conceito surgiu junto com o sacrifício para perdoá-lo. um problema que surgiu no mesmo momento que deram a solução. Porque nenhum profeta consagrado num espaço de 2 mil anos sequer falou sobre pecado original?

Sergio - A palavra pecado original (sempre no singular) não aparece em qualquer passagem do Antigo Testamento e nem do Novo Testamento, assim como a palavra livre arbítrio também não. Alguns comentaristas e escritores cristãos vão recorrer a uma passagem em Salmos para tentar corroborar uma visão que eles mesmos querem impor sobre as escrituras judaico-cristãs. Ei-la:

"Eis que em iniquidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe." (Salmos 51:5)

Essa passagem não diz que o feto já tem pecado ou que ao nascer ele herda o pecado de Adão. Diz apenas que a mãe dele era uma pecadora. Talvez até por uma visão contaminada pela ideia de que sexo sempre tem algo de sujo, pecaminoso. Ou porque, ele foi fruto de um adultério. Como saber? Geralmente, atribui-se esse salmo a Davi. Alguns comentaristas acreditam que tenha sido um salmo de contrição no contexto de seu adultério com Bate-Seba, mulher de Urias.
É realmente Agostinho que há cerca de 1600 anos cunhou o termo. No capítulo VII de Confissões, Agostinho recorre à ideia do Salmo 51:5. Veja: "Assim, se fui concebido em iniquidade, e se em pecado me alimentou minha mãe, onde, suplico-te, meu Deus, onde Senhor, eu teu servo, onde e quando fui inocente? Mais eis que silencio sobre esse tempo. Para que ocupar-se dele, se dele já não conservo nenhuma lembrança?"

No capítulo IX (Enfermo) de Confissões, Agostinho diz sobre um período em que ele ficou doente em Roma antes de sua conversão: "Em Roma fui colhido pelo flagelo de uma doença corporal, que esteve a ponto de me mandar para a sepultura, carregado de todos os pecados cometidos contra ti, contra mim e contra o próximo; pecados numerosos e pecados, que se somavam à cadeia do pecado original, pelo qual todos morremos em Adão. Ainda não me tinhas perdoado nenhum deles em Cristo, nem ele havia apagado com sua cruz as inimizades que contraíra contigo com meus pecados. E como poderia ele desfazê-los por uma cruz de onde eu não via pender mais que um fantasma?"

Agostinho é do quarto século. Tomás de Aquino é do século treze. Assim, pode-se dizer que ele só fez desenvolver ainda mais a ideia que seu antecessor havia lançado.
E, sim, me parece que a Igreja Romana só podia pregar salvação a todos os homens se ela convencesse a todos de que todos são pecadores e que não há necessidade de se fazer algo mau para ser pecador, porque o ser humano já nasce em/com pecado. Daí, a ideia de batismo infantil.
Tudo vai se conectando. O monge Martinho Lutero não se livrou dessa obsessão. Por isso, o protestantismo também mantém a ideia de pecado original, mantendo a mesma "economia" da salvação que o catolicismo, exceto pelo fato de que afirmam ser apenas pela fé, enquanto a Igreja Romana, diz que é pela fé e pelo concurso das obras feitas por meio da fé. Também vale lembrar que alguns protestantes batizam crianças e outros não. Alguns consideram o batismo um sacramento, enquanto outros pensam nele como uma ordenança de Cristo, e outros ainda como uma profissão pública de fé, simplesmente.

Mayumi - Se Jesus faz parte da trindade, deus pai filho e espirito, então é justo afirmar que Jesus mandou matar no antigo testamento?

Sergio - Na realidade, a trindade é mais um sinal do sincretismo entre cristianismo e mitos gregos e romanos. Os judeus nunca reconheceram trindade alguma. Assim como os muçulmanos dizem que deus não tem congênere, nem consorte, nem filho, os judeus também afirmam que deus é uno e ponto. Mas se pensarmos que o conceito de trindade, conforme apresentado pelo cristianismo romano e reformado diz que os três são um, é possível aceitar a ideia de que tudo o que aconteceu no Antigo Testamento é obra do deus trino. Só que isso não faz diferença para o reconhecimento do caráter sanguinolento do deus cristão, uma vez que ele não sossegou enquanto não viu o próprio filho torturado e pregado pelado numa cruz. Zeus foi melhor para Hércules do que isso. Pelo menos, os doze trabalhos de Hércules não foram impostos por Zeus, mas pelo oráculo de Delfos em punição a este por ter matado sua esposa e três filhos, graças a um ataque de fúria provocado por Hera, deusa-esposa de Zeus, que odiava Hércules por ser filho do deusão com uma mortal chamada Alcmena. Hércules cumpriu os doze trabalhos e alcançou a imortalidade. Já o filho do deus cristão teve uma morte nada gloriosa para satisfazer ao próprio pai. Não fosse o poder de cegar completamente a razão humana exercido por tradições, sejam elas quais forem, jamais teríamos aceitado a morte de um crucificado (coisa assustadoramente comum nos territórios dominados pelos romanos) como algo digno de reverência.




Tatiana -  Em qual momento você se sente ou sentiu mais humanizado e compreensivo com o espirito humano?


Sergio - Mesmo quando eu era pastor e muito encegueirado pela fé, eu costumava ser muito humano com as pessoas no meu modo de agir. Não podia ser considerado um humanista, obviamente, porque não pensava em categorias humanistas, mas teístas, sendo deus o eixo ao redor do qual tudo devia girar. Porém, eu era capaz de ouvir muitas coisas que fariam outros pastores excluírem furiosamente membros da igreja, mas fazia o contrário: acolhia.
Pensava sempre no restabelecimento daquele crente e não em sua exclusão. Porém, eu digo com toda segurança que a consciência de que esta é a única vida que viveremos e de que não há razão para converter pessoas a coisa alguma, mas encoraja-las a desenvolverem seu potencial plenamente, vivendo de acordo com seus mais sinceros desejos, respeitando apenas o limite da dignidade do outro, e sempre pensando em como maximizar a felicidade própria e alheia tanto quanto possível – esta consciência eu desenvolvi depois de abandonar os pressupostos teístas. E esta é a consciência mais humanista que consegui desenvolver até agora. Ao longo da vida, espero aperfeiçoa-la cada vez mais.


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