Bate papo com Jota, o Inca Venusiano.
Se eu tentar desenhar uma pessoa: Uma bolinha e cinco pauzinhos, com um vestido no pauzinho central se for menina. Quando me deparo com desenhos assim a primeira coisa é perguntar qual sua formação, claro porque eu não poderia ter nascido tão inútil, mas a resposta me diz que sim, eu sou uma inútil (risos). Eu sou fã de seu trabalho desde meu inicio no ativismo anti religião, seu canal no Youtube foi um dos meus primeiros contatos com o pensamento ateísta. Sua pagina no facebook presa por postagens únicas e originais. Fora sua criatividade, também integra a diretoria da Atea -
Associação brasileira de ateus e agnósticos. Em meio a tanto trabalho, com muita simpatia, Jota o Inca Venusiano nos cedeu esse tempinho para um rápido bate papo.
Associação brasileira de ateus e agnósticos. Em meio a tanto trabalho, com muita simpatia, Jota o Inca Venusiano nos cedeu esse tempinho para um rápido bate papo.
Entre as perguntas, alguns de seus trabalhos, que podem ser conferidos na íntegra clicando aqui. Ou confira os links no final.
Bruna - Inca, como de praxe, a pergunta principal
é : Já
foi teísta ?
Se sim , qual religião frequentou
?
Jota - Como a maioria dos brasileiros, fui batizado na
igreja católica. Mas, lembro
claramente que aos 10 anos de idade eu já não acreditava mais na
bíblia. No entanto, Jesus me
agradava como pessoa: ele me parecia um rebelde justiceiro com poderes
mágicos. No entanto, essa
ingênua imagem de Jesus foi se
desmilinguindo durante a adolescência à medida que fui
conhecendo melhor os evangelhos.
Na adolescência, frequentei o espiritismo durante uns 4 anos. Como eu havia me
apaixonado pela ciência, e como o
espiritismo se dizia uma “ciência”, resolvi ver com meus próprios olhos. Fiz 2 anos de escola de
médiuns e lá
pude avaliar em detalhes a tolice e o engodo que
é essa coisa chamada “mediunidade”.
Bruna - O que levou você ao ateísmo e depois a militância ?
Jota - Durante a adolescência, eu me achava uma pessoa extremamente estranha e única, pois havia chegado à
conclusão de
que deus não existe e que
não existe vida após a morte. Uma conclusão totalmente solitária e pessoal, e sem sequer ter lido um
único livro sobre ateísmo. Também me sentia muito sozinho, pois acreditava que existiam poucos como eu
(detalhe importante: na minha adolescência, a Internet ainda não
existia). Por isso, nunca revelei essas minhas conclusões a ninguém, nem mesmo a meus amigos mais íntimos.
Eu havia chegado ao ateísmo pela ciência e, naquela época, os
ateus famosos que eu conhecia através dos livros haviam chegado ao ateísmo pela área de humanas
(principalmente, pelo marxismo). Por isso, por muito tempo achei que o
ateísmo era um sub-produto do
marxismo.
Só cheguei a me identificar como “ateu” após o 11 de setembro, quando livros sobre
ateísmo viraram best-sellers nos
países de língua inglesa. Só
então pude
perceber que existiam milhares como eu e que não era esquisitice não acreditar em deus.
A militância veio quando percebi que canais ateus começaram a pipocar no Youtube.
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https://www.facebook.com/oincavenusiano |
Bruna - Eu confesso que quando comecei a participar de grupos e páginas, o seu canal do youtube foi um dos primeiros que tive contato, na verdade ele me deu uma força enorme. Eu estou e tenho certeza que mais pessoas estão, com saudades de seus vídeos. Por que deu um ¨tempo¨ ? Podemos ter esperança de novos videos?
Jota - Este ano, estou com mais tempo e prometo fazer mais
vídeos.
Bruna - Suas publicações na página
são únicas, originais. É você quem faz
tudo ? Desenho ? Ideia ? Etc. Você tem formação em desenho ?
Jota - Sim, sou eu que faço tudo. Não, não tenho formação em desenho. Eu noto que as
publicações ateístas são todas muito parecidas: parecem ter sido feitas pela mesma pessoa. E
as idéias também são repetitivas. Eu tento fazer algo diferente.
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Bruna - Quanto tempo você
leva para fazer uma postagem ? Desde a ideia,
até o retoque final ?
Jota - Depende do desenho. Em geral, em torno de 4 ou 6
horas.
Bruna - Noto uma forte ligação com nossa associação, no desenvolvimento de vídeos e de postagens. Qual é
seu vínculo
com a Atea ?
Jota - Sou filiado à ATEA e, este ano, me tornei membro da diretoria.
Bruna - Como surgiu o personagem Inca Venusiano ? Qual o
significado dele para você ?
Jota - O Inca Venusiano é uma brincadeira, mas tem um significado pessoal. Na minha
infância, enquanto todas as
crianças que eu conhecia eram
fãs do bonzinho e heróico Nacional Kid, eu era fã dos estranhos Incas Venusianos. Quando me
tornei adolescente, o Inca Venusiano começou a representar a maneira como eu me sentia como ateu:
estranho.
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Bruna - Você como dono de
página também, o que tem a dizer sobre outras páginas e para elas ?
Jota - Eu noto que uma boa parte dos ateus ainda tem uma
religiosidade residual. É fácil perceber isso: no
Facebook, as publicações que
profanam a imagem de Jesus (ou outras imagens tidas como “sagradas”) são pouco compartilhadas
entre os ateus (isso acontece frequentemente na minha página). Muitos ateus ainda se sentem
desconfortáveis com essas imagens. E
eu chamo isso de “religiosidade
residual”, pois nos é ensinado na infância que brincar com o sagrado tem
consequências graves. E isso fica de
alguma forma em nosso subconsciente na idade adulta.
Acho que qualquer pessoa que queira atingir uma real
maturidade mental tem que aprender a zombar, ridicularizar e desrespeitar
autoridades, principalmente autoridades religiosas. A emancipação do ser humano só
acontecerá quando tivermos a capacidade de rir do “sagrado” e das autoridades que nos oprimem. Por isso, o jornal Charlie Hebdo
é tão importante para o mundo civilizado. E eu acho
que muitos ateus no Facebook ainda precisam se livrar desse resíduo de religiosidade que os impede de rir dos
ícones do cristianismo.
Bruna - O que
você acha que deve ser feito para
melhorar o ativismo ateísta ? Dentro
e fora da internet, qual o caminho ?
Jota - Sinceramente, não sei. A única coisa que
podemos fazer é continuar com as
publicações, com os vídeos, e não deixar a peteca cair. Já vi muitos canais ateístas
fecharem ou mudarem de conteúdo.
Para esses canais, o assunto “ateísmo” se esgotou ou perdeu o interesse. Do meu lado,
eu encaro meu canal no Youtube (e minha página no Facebook) como serviço de utilidade pública,
como tentativa de saneamento básico,
pois, para mim, a religião
é um mal social e precisa ser
combatida e questionada a todo momento. As religiões sempre foram inimigas número um das liberdades civis. E isto
não é
uma opinião.
É um fato histórico.
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Bruna - Você assim como eu,
também acha que está faltando foco no quesito estado/igreja ? Ou
é coisa da minha cabeça ?
Jota - Se não me
engano, no ano passado, foi a primeira vez que, num debate político no Brasil, se falou abertamente de
laicidade e de religião. Com tantos
evangélicos concorrendo a cargos de
representante do povo (até à presidência do
país), ficou claro na
cabeça do brasileiro que os
evangélicos querem realmente o
poder. No Brasil, nunca se falou tanto de laicidade como se fala hoje. No
entanto, falar por falar não
é suficiente. Se a ATEA tivesse
muito mais dinheiro, muito mais membros e muito mais colaboradores,
poderíamos fazer muito mais pela
laicidade.
Deixe uma mensagem para os ateus e para seus seguidores.
Assista meus vídeos no Youtube e acompanhe minhas postagens no Facebook e, se
possível, compartilhe todo esse
material. Mas, não me siga.
Aliás, não siga ninguém. E se você vê com apreensão o crescimento do fundamentalismo religioso neste país e quer fazer algo para contê-lo, entre para a militância ateísta, junte-se a ATEA e contribua.
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